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Maternidade e empreendedorismo: o grande propulsor dos negócios

A maternidade é um dos grandes motores do empreendedorismo feminino no Brasil. Dados do Sebrae mostram que 67% das mulheres empreendedoras do país são mães, e para 68% delas, a chegada dos filhos foi determinante na decisão de abrir o próprio negócio. A busca por flexibilidade, autonomia e a vontade de passar mais tempo com os filhos são as principais motivações, mas o caminho é repleto de desafios e conquistas.

Carmen Julia: perseverança, sonhos e inovação

Carmen Julia Jordan Rojas é um símbolo do espírito empreendedor materno no Vale do Paraíba. Filha de uma imigrante boliviana que, ao chegar ao Brasil sem recursos, negociou uma máquina de costura em um verdadeiro “leasing” antes mesmo do termo existir, Carmen cresceu com o exemplo de coragem e criatividade em casa.

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Desde jovem, trabalhou em diversas áreas, mas sempre buscou ser protagonista da própria história. A maternidade foi um sonho perseguido com determinação: antes mesmo de conhecer o futuro marido Toshimitsu Fujita, Carmen já dizia que teria uma filha chamada Alessandra até o final de 1981 – e assim aconteceu. No mesmo ano, ela e o marido acolheram Michele, filha de Teresa, uma vizinha que perdeu o emprego por estar grávida, e que passou a viver com a família. Michele e Alessandra cresceram juntas e em seguida ganharam mais uma irmã, Anna.

A decisão de criar o EmpresasVALE e o Sites&Cia, em 2000, veio quando Carmen percebeu o quanto queria ter mais tempo de qualidade com elas, sem abrir mão de ser uma mulher empreendedora. Com 50 anos de idade, sem experiência em tecnologia, mas com olhar atento às oportunidades, ela identificou que encontrar empresas e serviços locais era um desafio para quem vivia no Vale do Paraíba. E assim, ela criou o maior portal de negócios da região, reunindo mais de 20 mil empresas e promovendo conexões muito antes de se falar em SEO ou links patrocinados.

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Carmen Júlia e o marido Toshiitsu Fujita, parceiro em diversos empreendimentos

Segundo o marido e sócio, Toshimitsu Fujita, Carmen era movida por sonhos e metas:

“Otimismo e perseverança eram a marca dela. Ela estava sempre focada nas soluções, não nos obstáculos. Sonhos e metas eram o combustível para criar novos caminhos.”

Toshimitsu Fujita

O legado de Carmen mostra que o empreendedorismo materno é também sobre deixar marcas positivas na família e na comunidade. Conheça mais sobre a história de Carmen Julia.

O Cenário do Empreendedorismo Materno no Brasil

O Brasil conta com mais de 10 milhões de mulheres donas de negócios, sendo que 67% delas são mães, a maioria de crianças até 12 anos.

Segundo o Sebrae, 54% das mulheres decidiram empreender para passar mais tempo com os filhos, enquanto 52% buscam flexibilidade de horário e 40% almejam independência financeira.

Entre as mães empreendedoras, 47% apontam o equilíbrio entre vida profissional e maternidade como principal desafio, seguido por criatividade/inovação (37%) e compreensão das pessoas ao redor (34%).

O empreendedorismo materno é também uma alternativa de sobrevivência: oito em cada dez mães empreendem por necessidade, seja para sustentar os filhos ou para se libertar de relações abusivas.

O perfil das mães empreendedoras é diverso: 45,5% são MEIs, 20,2% donas de microempresas, 10,4% atuam de forma informal e 11,9% planejam empreender. Comércio e serviços são os setores mais comuns.

A maioria das mães empreendedoras tem entre 35 e 50 anos e, em muitos casos, é chefe de domicílio.

Raquel Zarur: flexibilidade, propósito e rede de apoio

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Raquel Zarur, dentista especializada em Endodontia e apaixonada por Estética, é mãe de dois filhos e decidiu abrir seu próprio consultório para conquistar mais flexibilidade e acompanhar de perto o crescimento das crianças. Entre os principais desafios, Raquel destaca a importância de sua rede de apoio – marido e pais sempre presentes – que foi fundamental para que ela pudesse montar o consultório e dar atenção ao negócio e à família.

“Só pude montar um consultório por ter rede de apoio presente. Enxergar o que realmente importa pra mim tem mais relação com atender não só pelo dinheiro do paciente, mas pelo bem-estar dele.”

Raquel Zarur

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A dentista Raquel Zarur com o marido e os filhos

Além disso, ela enfrentou a sobrecarga de conciliar os cuidados com os filhos e a gestão do negócio, a insegurança e a necessidade de construir uma clientela fiel em um mercado competitivo. O desafio de manter o foco no propósito – priorizando o bem-estar dos pacientes – foi fundamental para consolidar sua atuação em São José dos Campos.

Desafios do Empreendedorismo Materno

  • Equilibrar rotina profissional e cuidados com os filhos.
  • Falta de apoio externo e redes de contato.
  • Dificuldade de acesso a crédito, inovação e crescimento dos negócios.
  • Pressão para conciliar múltiplos papéis e manter a saúde mental.
  • Insegurança e necessidade de autoconfiança para inovar e se destacar.

Luana Faria: empreender durante a gravidez

Luana Faria já acumulava as funções de bailarina, professora, coreógrafa e educadora física quando decidiu, de uma vez, acrescentar mais dois itens na lista: empresária e mãe.

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A empresária Luana Faria com o filho Yuri

Ela fundou o Ballet Luana Faria em janeiro de 2016, no mesmo ano em que seu filho Yuri nasceu. Foi durante a gravidez que o instinto empreendedor falou mais alto e ela enfrentou os desafios típicos desse período junto com os desafios de abrir o primeiro negócio. O empreendedorismo e a gestação foram duas formas de transformar seus sonhos em realidade. Hoje, o Ballet Luana Faria conta com duas unidades e já formou centenas de alunos, provando que é possível empreender e crescer mesmo diante das incertezas da maternidade.

Juliana Miranda: autonomia, disciplina e novos caminhos

Juliana Miranda, jornalista e Diretora de Conteúdo da Click Textos, também viveu de perto o desafio de conciliar maternidade e empreendedorismo. Fundadora da agência em 2014, Juliana aproveitou um bom momento do mercado de produção de conteúdo e, junto com o sócio, atendeu grandes marcas, assumindo múltiplas funções – da redação ao financeiro.

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Juliana Miranda esperou 10 anos para ser mãe e conciliar a direção da agência Click Textos

O desejo de ser mãe já a acompanhava, mas ela esperou dez anos para realizar esse sonho, período marcado por altos e baixos na agência. “Empreender fazia muito sentido para mim, eu gostava da autonomia, da possibilidade de fazer meu próprio salário e da liberdade, mas, ao mesmo tempo, a rotina era puxada. Afinal, quando se tem um negócio próprio, você é responsável por tudo”, relata Juliana.

Quando engravidou, em 2021, estava em plena atividade: “Me lembro de escrever e revisar newsletters para clientes dois dias depois da minha cesárea. Tudo era muito intenso e conciliar o empreendedorismo com o maternar foi difícil no começo, mas valeu a pena.”

“É preciso ponderar muitas coisas, principalmente a estabilidade financeira, que pode ser difícil em alguns segmentos. Empreender sendo mãe exige muito mais disciplina e planejamento.”

Juliana Miranda

Hoje, com uma filha de 3 anos, Juliana optou por desacelerar e atender menos clientes para ter mais tempo de qualidade com a filha. Além disso, buscou a estabilidade de um concurso público como professora de inglês, garantindo uma renda fixa que o empreendedorismo, por vezes, não proporciona. “Acredito que cada mulher deve buscar o caminho profissional que faça sentido para sua maternidade e que seja capaz de garantir paz, tranquilidade e o sustento de seus filhos”, conclui Juliana Miranda.

Dicas Práticas para Mães que Querem Empreender

  • Defina prioridades e crie um cronograma flexível: adapte a rotina para conciliar demandas do negócio e da família.
  • Busque e valorize sua rede de apoio: familiares, amigos e parceiros são fundamentais para dar suporte nos momentos mais intensos.
  • Invista em capacitação: programas como o Sebrae Delas oferecem trilhas de capacitação online, mentorias, eventos com espaço kids e networking com outras mães.
  • Planeje financeiramente: organize as finanças pessoais e do negócio para garantir sustentabilidade.
  • Use ferramentas digitais: para otimizar tempo, organizar tarefas e ampliar o alcance do negócio.
  • Cuide do seu bem-estar físico e emocional: empreender exige energia e equilíbrio.

A maternidade, longe de ser um obstáculo, é um dos grandes impulsionadores do empreendedorismo feminino no Brasil. Histórias como as de Juliana, Carmen Julia, Raquel, Luana e muitas outras mulheres mostram que é possível unir realização pessoal, presença familiar e impacto social. Com apoio, informação e perseverança, mães podem transformar sonhos em negócios de sucesso – e inspirar toda uma nova geração de empreendedoras.